quarta-feira, 29 de abril de 2020

O Senhor da Seara Dirige os Dons

Quando a liderança de Cristo é mencionada na Escritura, é em relação aos assuntos corporativos da Igreja (Ef 5:23): quando o seu senhorio é mencionado, está relacionado à Sua orientação soberana dos crentes individuais (Lc 6:46). Portanto, não lemos que Cristo é o Senhor da Igreja. No entanto, a Escritura diz que Ele é o “Senhor da seara” (Mt 9:38). Ele, e não a Igreja, envia Seus cada obreiro para onde Ele deseja que ele O sirva. Quando Cristo dá dons, eles são diretamente responsáveis a Ele em seu ministério. Como já mostramos, os dons fluem de Cristo no céu e são para o benefício espiritual de Seu corpo. Uma pessoa com um dom específico deve procurar ministrar para toda a Igreja de Deus – quando puder fazê-lo sem comprometer os princípios da Escritura. Ele nunca deve se limitar a uma seita que os homens fizeram na Igreja. Seu dom é para a edificação de todo o corpo.
Cristo não é apenas a fonte desses dons, mas Ele também é o Diretor deles (1 Co 12:5). Como os vários servos estão em comunhão com o Senhor, Ele os dirigirá em sua esfera de serviço. Como a fonte e a orientação dos dons é Cristo no céu, os dons estão acima de ser controlados por qualquer organização religiosa terrenal (feita pelo homem), ao contrário do que vemos nas igrejas da Cristandade. Frequentemente ouvimos pessoas dizendo que o “pastor fulano de tal” foi enviado por uma organização específica para realizar um ministério aqui. Mas não existe algo na Escritura como a igreja, ou uma organização dentro da igreja, enviando uma pessoa com um dom para um determinado lugar para servir ao Senhor. Não lemos que os dons são controlados e dirigidos por um conselho missionário quanto ao seu serviço ao Senhor. Isso também é algo feito pelo homem. A Escritura diz: “Rogai pois ao Senhor da seara que (Ele) mande ceifeiros para a Sua seara” (Mt 9:38). E novamente: “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram [os deixaram ir – JND]. E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia” (At 13: 2-4).
É claro por esses versículos que o Senhor, pelo Espírito, é aqu’Ele que envia Seus servos. A igreja deve reconhecer um dom como sendo enviado pelo Senhor e deve dar à pessoa “as destras de comunhão” – o que pode incluir uma oferta prática de ajuda financeira (Gl 2:9), mas a igreja não o envia. Os de Antioquia encorajaram Barnabé e Saulo a irem, mas não tinham poder para enviá-los. Eles simplesmente “os deixaram ir”, porque reconheceram que o Senhor, pelo Espírito, os estava enviando.
J. A. Trench disse: “Podemos fazer uma pausa por um momento para examinar a obra (no livro de Atos). Samaria foi evangelizada, gentios foram admitidos no reino em Cesareia, gregos se converteram em Antioquia: esse é o registro breve. Além da obra na Judeia e em Jerusalém, tudo foi realizado sem orientação apostólica ou alguma autoridade humana. Como dissemos, o Espírito Santo abriu campos de trabalho independentemente da direção humana. Da mesma forma com que Ele fez então podemos confiar que Ele ainda faz. É sábio deixá-Lo trabalhar como Ele quer e então, como os apóstolos, de bom grado reconhecer o que Ele tem feito. O exercício do ministério na Palavra nunca esteve sujeito a orientação apostólica. Deveria estar subordinado aos homens agora, por mais piedoso e sincero que possam ser? Fazemos a pergunta. O leitor certamente pode respondê-la.
Se o Senhor enviar uma pessoa com o dom de um pastor entre nós, devemos reconhecer esse dom e deixá-lo ministrar como tal. Não devemos votar se o queremos como nosso “pastor” ou não: e se ele for aceitável para nós, colocá-lo em um “ofício” na igreja que não existe na Palavra de Deus! Ele não é nosso servo; ele é servo do Senhor. J. N. Darby disse: “Se Cristo achou adequado me dar um dom, devo negociar com meu talento como Seu servo, e a assembleia não tem nada a ver com isso: eu não sou servo dela de forma alguma... Eu me recuso definitivamente a ser seu servo. Se eu faço ou digo algo como indivíduo, que requeira disciplina, isso é outra questão; mas, ao negociar com meu talento, não ajo em assembleias, nem a favor delas. Quando vou ensinar, vou individualmente exercitar meu dom... O senhorio de Cristo é negado por aqueles que sustentam essas ideias; eles querem tornar a assembleia, ou eles próprios, em senhores. Se sou servo de Cristo, deixe-me servi-Lo na liberdade do Espírito. Eles querem fazer dos servos de Cristo os servos da assembleia e negar o serviço individual como responsável perante Cristo... Sou livre para agir sem consultá-los em meu serviço a Cristo: eles não são os senhores dos servos do Senhor.”
É claro que um servo do Senhor que tem os pensamentos de Deus sobre a Igreja não pode ser ministro de uma seita sem comprometer a verdade. Ele pode ministrar àqueles que se relacionam com seitas, caso se depare com eles, porque são membros do corpo de Cristo. Mas se ele deseja ser dirigido pelo Senhor, ele não pode se limitar a uma seita, porque então, ele só poderia ministrar dentro do seu círculo autorizado de igrejas. Esse terreno seria muito estreito. A. H. Rule disse: “O Senhor tem toda a Igreja diante d’Ele, e se o servo é responsável perante Ele, como pode se submeter a uma seita e ser fiel a ela e ao Senhor? É impossível. Se um homem é um ministro presbiteriano, é evidente que ele não é um ministro batista. Se ele é ministro de qualquer seita, ele se exclui de todo o resto, e seu ministério está necessariamente confinado à seita em que ele se encontra ou aos interesses dela.”
O servo do Senhor não deve permitir-se ser amarrado e restringido por uma organização denominacional feita pelo homem. O apóstolo Paulo não se permitiu ficar sob o poder de nenhum tipo de autoridade humana. Ele disse: “procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:10). Ele também disse: “Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens” (1 Co 7:22-23).

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